19 de fevereiro de 2007

Signo visual. O modelo do grupo Mµ

No post anterior procurámos analisar o conceito de signo segundo Pierce e, nessa análise, realçar a natureza do signo na sua comparação com o objecto.
Vários são os autores que no campo da semiótica, nos apresentam estudos de diferentes variedades de signos e das diferentes maneiras através das quais estes veiculam significados e se relacionam com as pessoas que os utilizam.
O grupo Mµ, constituído por um conjunto de investigadores, inspirando-se em Pierce, desenvolveram um modelo que apresentam como uma síntese de vários estudos sobre a natureza dos signos.

Na perspectiva destes investigadores o signo icónico pode ser definido como o produto de uma tripla relação entre três elementos: o significante icónico, o tipo e o referente.

Este modelo de signo icónico permite relativizar a distância entre o signo e o objecto, afastando a questão da semelhança.

O referente não é necessariamente um objecto real, mas uma actualização de um tipo, sendo este último uma representação mental estabilizada, constituída por um processo de integração que, confrontada com o produto da percepção, o significante, está na base do processo cognitivo.

Os autores descrevem a emissão dos signos icónicos como a produção, no canal visual, de simulacros do referente por transformações que ocorrem a partir do tipo correspondente ao referente.
A recepção dos signos icónicos, por sua vez, identifica um estímulo visual como procedente de um referente que lhe corresponde mediante transformações adequadas.

Ao longo da sua obra os investigadores contrapõem signo icónico e signo plástico. No entanto, interrogam-se se este último tem uma função semiótica própria que seja generalizável.
Na literatura sobre signo visual constata-se que muitas afirmações sobre um eventual significado plástico remetem para o icónico por intermédio da identificação de determinantes. Na opinião do grupo, é o acontece quando se comenta, por exemplo uma estampa japonesa invocando o significado de tristeza pelo significante curva. Não se trata de curvas em geral, mas de algumas, em particular, que previamente foram objecto de uma identificação icónica e associadas ao conceito de tristeza. Por exemplo, as curvaturas de um ramo de árvore.

No quadro que a seguir apresento, do pintor holândes Jan Vermeer, estamos, na minha interpretação, perante um signo visual. Um signo icónico, que representa a tranquilidade doméstica, com destaque para a bacia e a jarra dourada que associamos tradicionalmente a pureza. Também um signo plástico. O jogo de cores e luzes que observamos, por exemplo, no rosto da jovem e na sua touca e as matizes na parede, resultado da incidência da luz.

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