28 de fevereiro de 2007

A Mensagem Visual

J. Fiske define comunicação como “a interacção social através de mensagens” (2005, p. 14).

Neste post procuraremos fazer uma breve reflexão sobre a mensagem visual como um elemento do processo de comunicação, organizada com base em signos icónicos e plásticos aos quais, com frequência, se acrescentam os signos linguísticos.

Uma reflexão da mensagem visual pressupõe uma breve análise sobre a correspondência com as funções comunicativas originadas pelos elementos do esquema comunicacional – destinador (emissor), mensagem, contexto, contacto, código e destinatário (receptor). (Modelo de JAKOBSON – 1960).
Em FISKE (ibid, p. 55-57), a partir do modelo referido de JAKOBSON, essas funções são assim definidas:
Função referencial – estabelece a relação entre objecto e a mensagem
Função emotiva ou expressiva – descreve a relação da mensagem com o emissor. Tem por objectivo comunicar as emoções, as atitudes, o estatuto, a classe do emissor.
Função apelativa – refere-se ao efeito da mensagem no receptor.
Função estética ou poética – tem a ver com forma de expressão mais atraente para o objecto como signo. Privilegia a forma
Função fática – objectiva confirmar, manter ou cortar a comunicação entre o emissor e o receptor
Função metalinguística – auxilia na definição dos signos que podem não ser entendidos pelo receptor; torna o signo inteligível, pela explicação, facilitando a compreensão da mensagem. O seu objecto é a identificação do código empregado.
Os signos visuais não despoletam ou dificilmente o fazem, processos de significação relacionados com as funções metalinguísta (a imagem não permite descrever-se a si mesma ou falar de si própria) e fática (manter a comunicação entre emissor e receptor). Quanto às outras funções estão abertas ao uso da imagem.

Nos trabalhos de investigação empreendidos pelo grupo Mu, um signo visual tem subjacentes signos icónicos e signos plásticos. Embora autónomos, participam no signo visual, considerado como um todo. No entanto há três tipos de articulação entre os signos icónicos e os plásticos:
Relações de congruência - os signos harmonizam-se no que respeita à significação.
Relações de oposição – há oposição entre eles, o que pode produzir um alargamento ou proliferação de significados.
Relações de predominância – um dos signos domina o processo de significação.
A imagem como elemento da mensagem visual foi analisada pela primeira vez por R. Barthes, em contexto publicitário. Nessa análise, partindo da ideia de que a imagem é polissémica (o que vários autores contestam) pela possibilidade que abre de diversas interpretações, Barthes refere que a associação dos signos linguísticos aos visuais numa mensagem tem como objectivo reduzir o número de significações possíveis. Os signos linguísticos “tem uma função de repressão relativamente a significações não desejadas pelo receptor” ( A . Pereira, 2007, p. 10).

A interpretação das mensagens visuais está condicionada aos aspectos referenciais que ela comporta e, além disso, aos valores culturais e ideológicos do receptor. O peso desses valores pode ser tão forte que destrua todo o valor informativo da mensagem ou pelo contrário, aumente o efeito persuasivo, como acontece com determinadas mensagens publicitárias.

Mais recentemente, dois autores ingleses G. Kress e T. Leeuwen (1966), criaram um modelo centrado nos processos de significação dos intervenientes no processo comunicacional. Segundo esse modelo, as representações visuais podem ser consideradas na mensagem comunicativa de três modos: representação, interacção e como composição. Além disso, tendo em conta a criação e a recepção da mensagem e o que é representado, os autores definiram dois tipos de participantes: participantes interagindo (emissor e receptor) e participantes representados (o objecto de comunicação).

No modo de representação, as representações visuais podem associar-se a estruturas narrativas ou conceptuais. As representações narrativas incidem na construção de acontecimentos e podem integrar outros processos como o diálogo ou um processo mental. É o caso do balão na banda desenhada.

As representações conceptuais, dizem respeito a conceitos, ideias e abstracções (organigrama de uma instituição, mapas geográficos, campanhas de vacinação, onde uma figura de bata branca simboliza o médico).
No modo de interacção, há, segundo os autores, diversos recursos para sugerir a natureza da relação do emissor com o receptor da representação visual (uma expressão facial, uma maior ou menor aproximaçao da câmara numa fotografia).
No modo de composição, esta repercute-se na maior ou menor ênfase de um elemento que integra a representação visual.


Na nossa opinião a teoria desenvolvida por Kress e van Leeuwen apresenta um modelo que valoriza as potencialidades comunicativas dos recursos visuais.



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