29 de janeiro de 2007

O Signo segundo Pierce. Iconicidade e Indexalidade


São vários os domínios onde a imagem tem sido objecto de estudo, desde a História da Arte, à Publicidade e à Semiótica.
No campo da Semiótica a imagem é um signo, assim como outras representações visuais, não consideradas imagens, são enquadráveis em categorias de signos visuais.
Pierce fundamenta o conceito de signo em três categorias gerais do pensamento a primeiridade (as ideias desta categoria são puras aparências), a secundidade (categoria “do encontro com o facto brutal do mundo exterior”) e terceiridade (categoria “da consciência reflectida, do pensamento criativo e mediato (…) ligada às ideias de generalidade, de continuidade, de representação e de mediação”. (A. Pereira, p. 7)
O conceito de signo, segundo Pierce, tem subjacente a terceira categoria. Signo é “algo que está para alguém por algo, sob algum aspecto ou capacidade” (ibid, p.8).
O autor dá-nos uma ideia de signo como uma relação entre três entidades – o representante (gesto, grafia, som), o interpretante (conceito, ideia ) e o objecto (material, existente, conceptual, imaginário ou não). A um gesto, a um som, é dada uma interpretação (pensamento) e associa-se a um objecto que pode ter ou não uma existência real. Mas, interpretante também pode ser, num sentido mais lato, uma acção, uma experiência ou um sentimento. Nesta perspectiva, o conceito de signo segundo Pierce é abrangente – tudo pode ser considerado signo.
Segundo o autor, o signo pode ser analisado segundo três ópticas: na relação com o representante, com o interpretante e com o objecto. Na relação com o objecto, Pierce considera possível definir três classes de signos: os ícones ( se o signo mantém uma relação de semelhança com o objecto), os índices (se a relação é casual) e os símbolos ( se a relação é arbitrária). Neste sentido todas as representações visuais são signos, desde as fotografias, ao fumo como sinal de fogo, um determinado sintoma associado a uma doença, a bandeira de um país…
O conceito de ícone é complexo. Pierce fala-nos do signo icónico como o que representa “o seu objecto principalmente por similaridade”, o que por vezes se confunde com imagem. (ibid p. 15). Mas, a imagem, na perspectiva do autor, é apenas um dos “hipoícones”, ou seja, uma das três subcategorias em que o autor dividiu os ícones, com base na natureza da semelhança entre o signo e o objecto: as imagens (quando a semelhança é qualitativa), os diagramas (se é estrutural) e as metáforas (quando existe paralelismo entre o representante e o objecto).


Será que numa representação visual a relação com o objecto funciona apenas com uma categoria de signo?


Pierce considera que pode existir uma multiplicidade de interpretações e que por sua vez o interpretante pode remeter para outros objectos ou para outros signos.






20 de janeiro de 2007

Breve reflexão pessoal sobre a natureza da imagem




The end of the day - Monet

O texto “Imagens, cópias da realidade ou elementos construtores da realidade?” levou-nos a uma reflexão, embora sucinta, sobre alguns aspectos que nos parecem fundamentais relativos ao conceito de imagem.
O primeiro está relacionado com o próprio termo imagem. Este termo permite um leque muito diverso de significados que vão desde reflexo (de um universo visível), passando por sombras, de que nos fala Platão, até às imagens mentais ou signos.

“(…) parece que a imagem pode ser tudo e seu contrário - visual e imaterial, fabricada e “natural”, real e virtual, móvel e imóvel, sagrada e profana, antiga e contemporânea, vinculada à morte, analógica, comparativa, convencional, expressiva, comunicativa, construtora e destrutiva, benéfica e ameaçadora”. (Joly, 1996 p.27) 1

É este sentido polissémico do termo que nos exige particular cuidado na limitação do significado, conforme é referido no texto analisado.
Um segundo aspecto respeita à relação entre a imagem e a realidade. Por um lado, a perspectiva de que a imagem pode ser vista como possuindo traços comuns com aquilo para que nos remete – cópia da realidade. Por outro lado, a que admite a imagem como resultado da comparação que o produtor faz entre esquemas prévios (que possue) e observações empíricas. “O resultado não será uma cópia que vai reflectir o universo como verdade transcendente”.
Um terceiro aspecto prende-se com as funções que a imagem assume, designadamente a função epistemológica. A imagem dá-nos informações sobre o mundo, tornando-se assim, num instrumento de conhecimento.
No caso dos Descobrimentos, referido no texto, ela forneceu-nos um aumento considerável de conhecimentos sobre objectos, os lugares, as pessoas, através de livros, roteiros, diários de navegação…
Enfatizamos a importância da imagem na construção do conhecimento nomeadamente no campo científico (medicina, astronomia, matemática, física). Neste âmbito ela poderá ocorrer quer através de imagens “verdadeiras ou reais” ou resultantes de simulações.


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(1 ) JOLY, M., (1996), Introdução à análise da imagem, Campinas, Papirus




13 de janeiro de 2007

Depus a Máscara

Depus a máscara e vi-me ao espelho.
Era a criança de há quantos anos.
Não tinha mudado nada...
É essa a vantagem de saber tirar a máscara.
É-se sempre a criança,
O passado que foi
A criança.
Depus a máscara, e tornei a pô-la.
Assim é melhor,
Assim sem a máscara.
E volto à personalidade como a um términus de linha.

Álvaro de Campos